domingo, 31 de agosto de 2008

Festival Internacional de Teatro de Lisboa


"Scaramuccia"
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"Scaramuccia", levada a cena ontem à noite, no penúltimo dia do Festival de Teatro de Máscaras de Lisboa, é uma Comédia Romanesca desenhada para um cenário medievo e recôndito, algures no centro de França, em que as personagens se degladiam por amores escondidos e extremamente disputados.
À entrada, foi-nos dispensado o pagamento do ingresso, provavelmente por afectos dedicados à causa, sob a advertência de que a Peça se reproduzia em francês.
Uma encenação que se prolonga por 2 horas e de que nunca se sente o desejo do fim. Recheada de música, coreografias e danças de Côrte, fez-nos abstrair do nosso tempo e regressar a ele com a introdução de alegorias à senda do novo Aeroporto de Lisboa e à tragédia cíclica do lixo de Nápoles.
A narrativa poliglota não deixa ninguém indiferente, insensível e apeado no deserto do entendimento. Uma solução idiomática única e verdadeiramente genial, fundiu com o mais surpreendente do inesperado, o francês, o português, o inglês, o italiano, o castelhano, o alemão, o russo, até o árabe e o japonês. Cada vocábulo menos perceptível era ajudado pelo gesto ou pela sobre-elevação de raiz latina.
Pela primeira vez, nos 20 anos de integração europeia, sentimos aqui a hipótese de uma Nação Multi-Estados, que não pode ter qualquer construção política ou financeira, sem que primeiro a Cultura o defina. O exemplo e a proposta foram deixados aqui, para quem, sem esforço, o quis perceber.
Sob o Pórtico da Alcáçova, todo o Elenco da Peça da Academie Internationale Des Arts Du Espectacle, dispunha-se em 2 filas construindo um corredor humano, que cumprimentou um a um, cada elemento do público, de regresso aos seus secretos universos.
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Copyright: Actores National Gallery - Interdita a Reprodução Sem Aviso Prévio - SPA - Sociedade Portuguesa de Autores. 2008.

sábado, 23 de agosto de 2008

Festival de Teatro de Máscaras de Lisboa



Teatro de Montemuro

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Iniciou-se na passada quinta-feira dia 21, o Festival de Teatro de Máscaras e Comediantes de Lisboa. O seu enquadramento nos cenários muçulmanos e medievais do Castelo de S. Jorge, não podia ser o mais adequado e perfeito. Dirigido pelo Actor Filipe Crawford, este festival abre os seus espectáculos com uma Peça que arrebatou público e encheu de ar, os pulmões da organização.
Uma comunidade rural roçando ambiências de um medieval tardio, que em Portugal persiste até à chegada dos Cravos de Abril, sem rumo nas margens de um rio, sente que se perdeu regateando entre ela, a posse da cada margem num lamento profundo, dado que este rio deixou de saber e poder comportar a vida dos próprios peixes. Uma imponente aula de ecologia, acertou como um arpão de Deus na culpa do progresso urbano e capitalista, que decreta de passo em passo e de manha em manha, o declínio da vida na Terra.
Em contornos de Ópera Popular, numa narrativa conduzida ao rigor dos acordes e compassos musicais que sonorizam a Peça em cima do palco, "Splash" desafia e interpela o público, que depressa percebe que é o sujeito alvo de todas as intenções e este não pode furtar-se ao auto-reconhecimento de subscritor do drama universal que nos ameaça o próprio destino.
Por fim, aplaudida até à exaustão entre as lágrimas que são as últimas gotas de água daquele rio, reconforta-nos o facto de mestria e genialidade, que tudo isto, foi dito a rir e a brincar. Estes medievais tardios afinal são criaturas evoluídas e o teatro deu aqui exemplo raro, de cumprir a sua missão mais nobre e civilizacional. Assim, deveria percorrer Portugal inteiro com uma acrescida vénia das altas instituições das artes e da cultura.
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Copyright : Actores National Gallery - Interdita a Reprodução - SPA Sociedade Portuguesa de Autores. 2008.